E agora que eu tenho certeza que você não é ‘aquele’, eu me descubro cagando um monte pra tudo isso.
Porque você não é perfeito, mas o cara dos meus sonhos não tem o desenho da sua boca: com mais tinta do que contorno.
O homem perfeito é um puta de um chato com seus cds cults e cartazes de filmes europeus pela sala.
Você com aquele
seu vinil incansável do Bob Marley é muito divertido, porque a gente
briga até não aguentar mais por causa dele e depois faz as pazes
transando do nosso jeito.
Porque o homem
perfeito é cheio de estripulias sexuais, mas eu detesto estripulias e
adoro nosso jeito intenso de se amar cheio de inconformismos com a
intensidade.
Eu sonhei sim
com esse cara, que me levaria para tomar sopas quentinhas em lugares com jazz
e olharia para mim a noite toda achando que a maior diversão no mundo não
poderia haver.
Mas você com
essa sua mania de encher de amigos as pizzarias e soltar um ou outro
“irado” me faz te odiar tanto e querer tanto a sua atenção.
E me faz querer tanto você daqui a pouco, porque você não enjoa.
Você me cansa demais mas não enjoa.
E quando você me
cansa eu enfio a minha cabeça no fortinho do seu peito, eu que sempre
odiei os malhados, e peço a Deus para que eu nunca desista de te odiar
tanto assim, porque não pode existir ódio mais cheio de borboletas,
notas musicais e passarinhos azuis.
Eu quero sim te
matar, porque você tem uma mania surda de responder todas as minhas
perguntas com um “ãhhh?” enjoado, e eu quero te socar porque você já
descobriu tudo o que me irrita e gosta de me ver assim.
Mas quando
qualquer outra coisa no mundo me irrita, eu lembro que eu tenho você pra
me fazer sentir essa raiva nossa de sitcom inteligente.
E sua cara de sonso despretensioso para a vida, enquanto eu coleciono
rugas, berros e inchaços. A sua cara de que “não é comigo” vai muito bem
com a minha máscara da agressividade que acredita que tudo é comigo.
E o homem
perfeito tem um beijo profundo e ritmado, que de tão melado e encaixável
me deixa saciada de um jeito que encerra o meu desejo.
E você tem um jeito caótico de me beijar meio burro, porque se eu vou para um lado, você vai para o mesmo.
E é nesta única hora em que você não deveria concordar comigo, que você concorda.
E eu nunca me
dou por satisfeita, e acabo achando que a gente ainda nem deu o nosso
primeiro beijo, o que me causa uma ansiedade de paixão inicial que não
deixa o peito relaxar.
E o homem das
minhas ilusões me deixaria relaxar numa enorme cama amorosa, e acordaria
inúmeras vezes para me ver dormir abraçada a toda a certeza que ele me
daria com apenas um segundo de olhar.
É cansativo
viver sem vírgulas porque eu respiro a sua existência 24 horas por dia, e
só coloco vírgulas teatrais para você não enjoar de mim.
Te amar não é fácil, é quase o anti-amor.
É muito quase como se você nem existisse, porque só o homem perfeito mereceria tanto sentimento.
E eu te anulo o
tempo todo dizendo para mim, repetindo para mim, o quanto você falha, o
quanto você fraqueja, o quanto você se engana.
E fazendo isso, eu só consigo te amar mais ainda.
E a gente vai por aí, se completando assim meio torto mesmo.
E Deus escrevendo certo pelas nossas linhas que se não fossem tão tortas, não teriam se cruzado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário