Se eu tivesse ficado, teria sido diferente? Melhor interromper o
processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá
muito mais — por que ir em frente? Não há sentido: melhor escapar
deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa
jogada na cadeira, uma fotografia — qualquer coisa que depois de muito
tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do
que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido. Tinha terminado, então. Porque a gente, alguma coisa dentro da gente, sempre sabe exatamente quando termina. Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas. Uma lembrança boa de você,
uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os
outros. De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo
encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre
traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo, quem vai saber...